Jovens
brasileiros estudam medicina em universidades de países vizinhos, onde a
mensalidade é mais barata, mas, na volta ao Brasil, não conseguem
registro para trabalhar.
São
as histórias de milhares de estudantes brasileiros que buscam em
faculdades de países vizinhos a realização de um sonho: virar médico.
Eles sofrem com a distância das famílias, com a falta de dinheiro e de
conforto. Quando voltam ao Brasil, formados, ainda têm que enfrentar
mais um drama. A reportagem é de Eduardo Faustini.
Na classe de uma faculdade de medicina na Bolívia em dia de prova,
apenas um aluno era boliviano. Todos os outros eram brasileiros.
“Só na minha faculdade, podemos falar em seis mil estudantes
brasileiros em Cochabamba, Santa Cruz e Cobija”, afirma o vice-reitor da
Universidad Técnica Cosmos (Unitepc), José Teddy.
Por
que tanta gente está estudando medicina fora do Brasil? A resposta está
na ponta da língua de todo aluno. “É bem mais fácil, a gente não tem
vestibular”, declara Michel Mendonça, estudante sul-mato-grossense. “A
gente vai pagar, mais ou menos, seis vezes menos do que se pagaria no
Brasil”, afirma Pedro Adler, esutdante acreano.
As mensalidades dos cursos de medicina privados no Brasil variam de R$
2,5 mil a R$ 6 mil. Em uma faculdade de Cobija, fronteira da Bolívia com
o Brasil, custa pouco mais de R$ 500.
“Meus pais não têm condições financeiras de pagar e nem para me ajudar.
Se eu tivesse condições, provavelmente eu estaria fazendo no Brasil. Eu
sempre quis fazer medicina, acho que desde que eu me entendo por gente.
Então, eu decidi vir para cá”, conta Antônia Maria Cândido, estudante
acreana.
Para se manter em Brasiléia, no Acre, a poucos quilômetros da faculdade boliviana, Antônia trabalha como manicure e garçonete.
O Brasil é o segundo país com maior número de escolas de medicina, só
perde para a Índia. No Brasil, são 180 faculdades de medicina, todas com
vestibular.
“Eu tive que estudar por conta própria. Passei em algumas faculdades
lá, mas não em medicina. Por isso, eu me arrisquei tudo vindo aqui”, diz
Anderson Figueiredo, estudante carioca.
Anderson saiu do Rio para estudar medicina e morar em um em Cobija, na
Bolívia. “Não fico muito aqui, porque é apertado e quente. É horrível
ficar muito tempo aqui. Não tem uma cozinha, não posso te oferecer uma
água, porque a água é quente. Então, eu tento passar o máximo de tempo
na faculdade”, conta. “Fiquei dois dias com bala de hortelã no estômago.
Não tinha dinheiro para o almoço, nem para o lanche. Espero que eu
consiga continuar”.
No Brasil, medicina costuma ser o curso mais caro nas universidades e, muitas vezes, o mais concorrido.
“Eu tinha vontade de ser médico. Era um sonho, mas não tinha condições,
porque meu estudo foi muito fraco. E uma faculdade particular, eu não
tenho condições de pagar. Eu trabalho na área de saúde desde os meus 18
anos. Eu ingressei através da minha mãe que é auxiliar de enfermagem,
que me colocou cedo na área de saúde. Comecei a trabalhar cuidando de
idoso”, conta Lucas Rodrigues, estudante mineiro.
Lucas divide a casa em Brasiléia e o sonho de virar médico com a prima e
namorada Naruanna Cristina Rodrigues, também de Minas Gerais. “A gente
se arruma, vai para a faculdade, volta a pé no sol quente, e estuda
bastante”, diz a jovem.
“Minha mãe trabalha para me passar o dinheiro todo mês, e eu estou aqui
correndo atrás. Hoje, minha mãe está trabalhando 36 horas seguidas”,
revela Lucas.
“Eu saio daqui às 7h, trabalho 12 horas. Saio de um trabalho, vou para
outro e trabalho mais 12 horas. Aí, retorno para o outro do dia para
trabalhar mais 12. Hora nenhuma, eu me sinto abatida, com medo, de nada.
Eu vou dar conta até ele se formar”, afirma Maria José Rodrigues, mãe
de Lucas.
Todo o dinheiro que a mãe de Lucas ganha cuidando de idosos, em
Uberlândia, Minas Gerais, ela manda para o filho. “Eu não mexo no meu
salário, não posso, não compro um pão com ele”, diz Maria José.
Para seu sustento, sobra o rendimento da venda de balas de coco. “Eu
faço de seis a oito quilos por noite. Noite sim, noite não, fazendo bala
de coco gelada. Ainda bem que é bem aceita. Você faz e vende tudo, é
uma beleza, ajuda muito no orçamento”, conta a mãe do estudante.
O dinheiro para Naruanna vem das aves ornamentais que seus pais criam
no quintal para vender. Eles também fazem de tudo para ajudar a filha.
Maria Cristina Ribeiro Goes, mãe de Naruanna: Se precisar vender a casa e o carro, a gente vende.
Naruanna Cristina Rodrigues: A minha mãe até escreveu umas cartas para o Lula, contando nossas dificuldades.
Maria Cristina Ribeiro Goes, mãe de Naruanna: Aí entrou a Dilma, e eu
continuei escrevendo para a Dilma. Expliquei a dificuldade que eles
estavam passando lá, que estava sendo muito difícil, o calor que eles
estavam enfrentando, o dinheiro, a situação financeira.
“A gente fala 'o Lucas está passando dificuldade, está passando
necessidade'. Eu tenho tanta vontade de me formar, de me tornar médico,
que eu não vejo por esse lado. O que me deixa mais inseguro é saber:
amanhã, se eu formar na Bolívia, qual que vai ser minha aceitação no
Brasil?”, comenta Lucas.
Ter um diploma estrangeiro de médico não dá o direito de exercer a
profissão no Brasil. Não importa se o curso foi na Bolívia ou na Suíça, é
preciso passar por uma revalidação de diploma, um processo longo,
difícil e caro.
“Tem prova, viagem, o que eu estou gastando com advogado que está
assessorando, que tem um valor, o valor da faculdade, o valor da moradia
aqui”, declara André de Almeida, formado no Paraguai. “Eu acho que
chegaria em torno de uns R$ 100 mil”, diz Guilherme Junqueira Santos,
formado em Cuba. “Já tem quatro anos que eu estou tentando isso”,
declara Cíntia Brandão Freire, formada na Argentina.
Em uma faculdade particular, em Caratinga, Minas Gerais, os
recém-formados fazem um curso de complementação, de aulas que não
tiveram no exterior. Há ainda as provas que, pelas regras atuais, só
podem ser dadas por universidades federais. O índice de aprovação
costuma ser baixíssimo. Em quatro federais que recentemente receberam
entre 200 e 400 inscritos cada, nenhum foi aprovado. Na Federal de Minas
Gerais, no ano passado, de 100 inscritos, apenas 11 conseguiram passar
na prova.
“Eu já fiz a prova várias vezes. E, muitas vezes, foram injustas as
provas”, critica Cintia. “As provas têm um caráter, um nível superior ao
de um graduando. São provas para especialistas. Eu acho injusto o
processo de revalidação de diploma no Brasil”, aponta Diógenes Freire,
formado na Bolívia.
Com o número de formados fora do Brasil aumentando e, junto com ele, as
reclamações de que o sistema de revalidação dos diplomas é injusto, o
governo decidiu fazer uma prova em Brasília no ano passado. Mas,
novamente, houve reprovação em massa: 628 inscritos e apenas dois
aprovados.
“O número alto de reprovações se deveu a dois motivos. Em primeiro
lugar, candidatos que tinham um preparo inadequado, e em segundo lugar
houve um exagero na nota de corte, na nota mínima para a aprovação”,
comenta o secretário do Ministério da Saúde, Milton de Arruda Martins.
Para este ano, o governo promete a implantação de um novo sistema: uma
prova única, aplicada em vários pontos do Brasil. “Ele vai ter um nível
adequado para a avaliação se o médico tem condição de atender à
população. Existem médicos que vêm do exterior com uma formação muito
boa e médicos com uma formação muito fraca”, afirma o secretário do
Ministério da Saúde.
“Tem que ter um critério de avaliação, porque nós fomos lá fora e eles
não sabem o que nós demos lá. Eu sei, mas as pessoas não sabem”, diz
Lindalva Lacerda Lessa, formada na Bolívia.
O doutor Edson Braga Rodrigues se formou na Bolívia. “Passei dois anos,
praticamente dois anos sem CRM, sem poder exercer porque não tinha
CRM”, conta.
Ele fez a prova de revalidação em três universidades federais e passou
na última. Hoje, é diretor clínico do Hospital de Brasiléia. “Eu
acredito que a formação depende de cada um. A oportunidade dos jovens
mais carentes terem uma formação em medicina é essa, é procurar as
faculdades da América Latina. O meu caso é um. Eu não teria condições de
me formar no Brasil”, revela Dr. Edson.
“A gente foi formado para ajudar o próximo. Nós estamos na medicina,
que nos fez ir para outro país distante, para ajudar o próximo. A gente
quer somente isso, não quer coisa de outro mundo, quer trabalhar”,
declara Diógenes.
Só com o diploma revalidado, é possível conseguir o CRM, o registro em
um dos conselhos regionais de medicina, que permite o exercício da
profissão no Brasil.
“Quando você está estudando, tudo é um sonho, tudo é alegria, tudo é
bonito. Você está estudando medicina”, afirma um homem, formado em
medicina na Bolívia, que tenta há dois anos revalidar seu diploma. Para
pagar os custos das várias tentativas, dá plantões em hospitais no
interior da Bahia, clandestinamente.
“Geralmente são plantões de fim de semana. Você vai trabalhar naquela
cidade. Amanhã, já vai para outra cidade. O preço é o que eles pagam. Se
normalmente é R$ 1 mil de um médico que tem CRM. Para os médicos sem
CRM, é em torno de R$ 500”, diz o homem.
Ele trabalha para empresas que se definem como cooperativas e oferecem
mão-de-obra médica aos hospitais. “Se der qualquer problema com
pacientes, se der qualquer problema jurídico, o que a cooperativa diz é
que não sabia que você não tinha CRM. Ou seja, lava as mãos. Mas ela
sabe”, afirma.
Para assinar receitas, atestados, o homem usa um CRM falso. “Você entra
no site do Conselho Regional de Medicina, você vai procurar um médico
que tenha mais ou menos a sua idade. Esse é o grande problema, porque
você pode ser preso, primeiro, por ser falso médico, e segundo por
falsidade ideológica”, declara.
Nos últimos anos, a polícia prendeu médicos sem CRM nos estados do
Pará, Amazonas, Acre, Piauí, Pernambuco, Paraíba, Bahia, Sergipe, Goiás,
Mato Grosso, Minas Gerais, Rio de Janeiro e Paraná.
No início do ano passado, Edilson Bezerra da Silva, de 29 anos, foi
preso no pronto-socorro de Ponta Grossa, no Paraná. Com diploma
boliviano, ele usava o CRM de um médico de Curitiba. “Ele está
respondendo pelo exercício ilegal da medicina e pela falsidade
ideológica”, declarou o delegado Jairo Luiz Duarte Camargo.
O dono da empresa que ofereceu o serviço do falso médico para o
hospital também foi preso. Hoje, os dois estão soltos, mas respondem a
processo na Justiça.
O Brasil tem 347 mil médicos e forma 13 mil novos por ano. “O governo
brasileiro considera que o número de médicos existente no Brasil é
inadequado. Existe a necessidade de formar mais médicos, só que esses
médicos têm que ser formados com qualidade, com responsabilidade”,
afirma o secretário do Ministério da Saúde, Milton de Arruda Martins.
O Conselho Federal de Medicina discorda, acha que o Brasil já tem
médicos suficientes. “O que nós temos não é falta de médico. Nós
entendemos que existe uma distribuição inadequada”, declara o
vice-presidente do Conselho Federal de Medicina, Carlos Vital Correa
Lima.
Enquanto na cidade de São Paulo, existe um médico para cada 240
habitantes, no Acre, há um para cada 980, uma média comparável a países
africanos.
Para fazer medicina na Bolívia, Nadjele Ferreira dos Santos e Raíssa
Mendes Miranda deixaram as famílias em Nova Mamoré, no interior de
Rondônia. O pai de Nadjele é açougueiro, o de Raíssa, taxista.
Foi com muita relutância que Hamilton deixou Raíssa ir para outro país
com 17 anos. “Vou completar 18 anos aqui, sozinha, longe de casa. É
difícil, mas para realizar um sonho a gente faz qualquer coisa”, diz a
estudante acreana.
“Eu tenho que levantar às 5h, saio de carro e não sei que a horas
chego, porque eu pago prestação de carro, eu pago a faculdade dela,
despesa de casa e não tenho outra renda”, declara Hamilton Mendes, pai
de Raíssa.
Quando formadas, as duas amigas querem trabalhar em Nova Mamoré. “todos
os pais têm um sonho de ver o filho formado. Meu sonho é fazer
pediatria”, revela a estudante Nadjele.
“Aqui não tem esse tipo de médico. Falta tudo. Ontem mesmo, um menino
meu ficou meio doente, e nós levamos no pronto-socorro, não tinha nenhum
médico ali. Aí eu lembrei, minha menina está no caminho certo”, declara
Valdir Santos, pai de Nadjele.
“Eu tenho um sonho de ser geriatra, para trabalhar cuidar de idoso”,
afirma Lucas. “No meu consultório, vai ter uma plaquinha: dona Naruanna
Cristina Rodrigues e doutor Lucas Rodrigues”, aponta Naruanna. “O Lucas
vai ser médico, toda vida eu soube disso”, declara a mãe do estudante.
Para o carioca Anderson, o sonho de ser médico acabou. Há dez dias, ele
voltou para o Brasil. “O que mais me fez desistir é que eu sei que
quando sair dali a luta vai continuar maior para conseguir exercer no
Brasil”, revela.
DOCUMENTAÇÃO NECESSÁRIA
PESSOAL
Histórico escolar do 2 º grau
Certidão de nascimento
Visto de permanência anual de estudante
Foto 3X4
Passaporte
NOTA: Toda esta documentação de origem estrangeira deve ser legalizada nos seguintes órgãos:
Ministério da Educação Brasil
Embaixada o consulado da Bolivia Em Brasil
Ministério das Relações Exteriores em Brasil
Ministério das Relações Exteriores y Culto (da Bolívia)
Depois
de fazer o depósito deverá ir pra o consulado mais próximo da Bolívia
com a certificação a ser concedida pela UDABOL de reserva de matrícula,
para obter um visto de estudante de 2 meses, que será trocado na
Bolívia para um visto de um ano.
Existem duas formas de pagamento para a carreira de medicina:
1.- 125 $us matricula semestral, 5 pagamentos de 125 $us por semestre.
2.-
4250 $us pago ao inicio da carreira, o que equivale a 5 anos de estudo,
nao necesita pagar nem matricula e nem mensalidade , por estes 5
primeros anos.(Nao cobre o internato rotatorio) pode faze-lo na Bolivia
ou no Brasil.
Existem duas formas de pagamento para a carreira de Licenciaturas e enghienerias:
1.- 110 $us matricula semestral, 5 pagamentos de 65 $us por semestre.
2.-
2000 $us pago ao inicio da carreira, o que equivale a 5 anos de estudo,
nao necesita pagar nem matricula e nem mensalidade , por estes 5 anos.
O custo médio de vida na Bolívia gira em torno de:
Lic e Ing.
Alimentação 70 dólares
Aluguel de uma kit net 100 dólares
Transporte 10 dólares
Mensalidade da universidade UDABOL 65 dólares
Gasto extra 50 dólares
Medicina e Odontologia
O custo médio de vida na Bolívia gira em torno de:
Alimentação 60 dólares
Aluguel de uma kit net 100 dólares
Transporte 15 dólares
Mensalidade da universidade UDABOL 125 dólares
Gasto extra 50 dólares